22 janeiro, 2007

Son House

Deve haver algo de especial nas águas do rio Mississippi, principalmente na altura do Delta, pois num raio de pouco mais de 20 milhas nasceram os maiores bluesmen da história. John Lee Hooker, Muddy Waters, Howlin' Wolf. Todos vieram dessa região. De lá também é Son House, ou Eddie James House Jr, nascido em 21 de março de 1902 na cidade de Riverton, no Mississippi.
House cresceu no meio religioso e se tornou crente da religião Batista. Aos 15 anos já pregava nas ruas sonhando em ser pastor. Ele trabalhou nas plantações de algodão e também como engraxate. E se vangloriava por ter Louis Armstrong como um de seus clientes habituais.
Na primeira metade da década de 20 Son House morou e trabalhou em diversos lugares pelos estados de Louisiana, Illinois, Tennessee e Misouri, voltando depois para Leon onde passou a pregar na Colored Methodist Episcopal Church. Mesmo assim se vê obrigado a voltar para as plantações de algodão para se sustentar, o que o deprime e faz com que comece a beber.
Certa noite em um bar da cidade de Mattson, aos 21 anos de idade e já pastor, Son House assiste a Willie Wilson, um bluesman do sul do Mississippi tocando e ganhando uns trocados. Willie usa uma garrafinha de remédio no dedo anular da mão esquerda, estilo conhecido como bottleneck, e desperta o interesse de House pelo violão. Pouco tempo depois, agora em outro bar, Son House conhece Rubin Lacy, que também fazia uns trocados tocando seus blues nesse bar. Os dois conversaram e com a devida autorização de Lacy, House tenta tocar violão pela primeira vez. Mal tocado, é sua voz que inspira as poucas pessoas presentes a deixar alguns trocados para ele que bêbado canta com mais potência e convicção do que a maioria dos que se apresentavam por aquelas bandas.
Com seu aprendizado de ler pautas de canto religioso, Son House logo aprende a tocar e compra um violão velho e quebrado que Rubin Lacy o ajuda a consertar e afinar. Ele logo percebe que pode se sustentar com muito menos trabalho cantando em festas e bares. E é assim que vive de 1922 a 1928, na região de Robinsville, perto de Leon. E são estes os dois pólos, o divino representado pelos gospel e o profano representado pelo blues, o centro do seu dilema interno.
Certa vez em Leon, House se meteu numa briga que rapidamente virou um tiroteio. Son House havia baleado e morto seu oponente, sendo imediatamente preso. O crime foi considerado legítima defesa mas mesmo assim ele ficou dois anos na penitenciária de Parchment Farm, em Clarksdale.
Depois de sair da cadeia ele abandona de vez as aspirações religioas e passa a viver como músico de blues andarilho, pegando carona escondido em trens. Nessas viagens ele conhece Charlie Patton, uma das maiores figuras do blues naquele momento, que abriu as portas da gravadora Paramount Records em Grafton, Wisconsin. Ele então gravou dez faixas. Consta que essa remessa de discos em 78 rpm, pela falta de investimento, foi prensada com a pior e mais barata maquinaria disponível, de forma que mesmo novo o disco já apresentava ruídos e chiados. Ainda assim, estas gravações demonstram tanto Son House tocando bem seu violão, como também sua voz intimidadora, descrita por alguns como 'demoníaca', tamanha força e ressonância, certamente adquirida nos seus tempos em que pregava como pastor.
Ele passou então a excursionar por Mississippi e Tennessee acompanhado de seu amigo Willie Brown e seguido por um tempo por um adolescente chamado Robert Johnson. Porém após a morte de Willie, Son House perdeu o gosto pela coisa. Ele dizia que ninguém estava realmente interessado pelo blues e desistiu da carreira. Se mudou com a mulher para Rochester e só em 1964 foi encontrado por um grupo de pesquisadores e amantes do blues. Eles garantiram que havia público para o blues e ele voltou a tocar e se apresentar. Regravou vários de seus antigos sucessos de bar para o selo Blue Goose em Washington DC, ainda em 1964, e no ano seguinte em Nova York, para Columbia. Faixas como "Death Letter Blues," "Preachin' Blues" e "Grinnin' In Your Face", que embora tendo Son House passado seu auge, ainda deixam uma forte impressão no ouvinte.
Em 1971 sua saúde começou a declinar e suas excursões internacionais e pelo país cessaram praticamente por completo. Passou a morar na cidade de Búfalo no estado de Nova York onde permaneceu pelos próximos cinco anos. Son House foi diagnosticado primeiro com Alzheimer, o que afetou sua memória para lembrar as canções e como tocá-las. Ainda assim, encontrou forças para participar do Toronto Island Blues Festival de 1974, no Canadá. É sua última apresentação ao vivo conhecida. House se mudou em 1976 para a cidade de Detroit onde verificou-se que ele havia também contraído Parkinson, e suas mãos agora sacudiam tanto que ele teve que abandonar o violão de vez. Son House foi inserido no Blues Foundation's Hall of Fame em 1980. Levado ao Harper Hospital em 1987 por causa de um câncer na laringe, o mestre Son House faleceu no hospital dia 19 de outubro de 1988.
Fonte: Whiplash


Para download:

Son House - Library Of Congress
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Son House - Father of the Delta Blues
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Son House - Sometimes I wish
Nessa música é possível perceber como ele canta os seus lamentos. Gosto do jeito primitivo dele tocar o violão.